Para cada situação do dia-a-dia, há uma música do Conan Osíris
...por isso é que ele é bom. Tem uma antena bem sintonizada no nosso século XXI, e não no séc XIX, como a maioria dos tugas. Mas deixemos isso para o post que eu vou fazer quando ele ganhar a Eurovisão e passar de besta a bestial. Love Conan, ainda assim.
O que me traz aqui hoje é um desabafo inspirado por uma música dele, que é um estado de espírito constante:
O mundo tem as prioridades trocadas, e eu francamente não tenho paciência. Nos últimos tempos tenho andado um bocadinho afastada do mundo e da net, em parte por causa do trabalho, em parte por causa da vida, em parte por causa dos spoilers de Game of Thrones, porque já não há respeito por quem não consegue ficar acordado até às 2h da manhã.
Com isto, tenho alguns comentários em atraso para fazer:
1) Notre Dame ardeu, e as grandes marcas doaram quantias exorbitantes para recuperar a igreja. Claro que as quatidades foram obscenas, escandalosas e que há muita gente a passar fome no mundo. Mais uma vez, o velho continente passou por fútil por se dedicar mais a um monumento do que a causas humanitárias, e montes de pessoas vieram mostrar o seu desagrado em público. Vamos cá ver uma coisa: primeiro, as pessoas fazem com o dinheiro delas aquilo que querem, e se calhar o que as marcas deram àquela igreja equivale àquilo que muitas pessoas dão de esmola para acender uma velinha em Fátima. A diferença é que uma pessoa que dá, sei lá, 1€ por uma vela em Fátima tem no máximo quatro dígitos na conta bancária, enquanto quem dá um milhão têm vários dígitos em várias contas no Mónaco, Suíça e Ilhas Caimão.
"Ah, e tal, fome em África...." - Ah, e tal, vejo muita gente a reclamar dos estilistas, e ninguém a reclamar do Vaticano. Se calhar deviam começar por aí.
2) Alcoholocausto. Aqui a minha reação foi qualquer coisa de giro. Uma amiga mandou-me o link da notícia que dava conta que um dos carros da Queima das Fitas de Coimbra iria ter este belo nome que destaquei a negrito, e eu pensei "cambada de imbecis. Mas pronto, deve ser uma engenharia, são um bocado bárbaros, se fosse um carro de História era pior"
E NÃO É QUE É MESMO DE HISTÓRIA?
Shame on you, colegas da FLUC. Como eu disse, se fosse outro curso qualquer, não me chocaria. Mas os historiadores têm a obrigação ética de nos alertar sobre o passado no presente, para que não se cometam os mesmos erros no futuro. É a mesma coisa que um carro de medicina se chamar "alcooncológico" - não fica bem. Numa época mais pacífica, onde a democracia florescesse no mundo, até podiam argumentar que é humor e que o humor é, ou deve ser, amoral. Mas num tempo em que vimos renarcer a extrema-direita no mundo e onde Bolsonaros e Trumps são eleitos, tenham paciência. Sobretudo vocês! Se não podemos confiar em quem estuda História para evitar que o passado de repita, confiamos em quem?
3) O tuguismo geral do dia-a-dia: que é como quem diz, o tuga a ser tuga, egoísta, umbiguista, comodista. Isto manifestou-se sobretudo quando veio à baila aquela petição para os shoppings fecharem ao domingo, e li logo dois comentários que se destacaram. O primeiro dizia - "Mas os serviços de saúde funcionam ao domingo", o que significa, das duas uma: ou esta pessoa trabalha nos serviços de saúde ao domingo e quer que o resto do mundo trabalhe também para não se sentir desgraçada sozinha, ou está a comparar a urgência de engessar uma perna com a urgência de comprar um par de sapatos. De qualquer das formas, é um imbecil
O segundo comentário dizia algo "não se admite, uma pessoa quer passear com a família!" Ora, meus amigos: não gostam de fadinho e músicas que falem de saudade, mar e caravelas? Vão dar uma voltinha à marginal na Figueira da Foz. Façam um pic-nic no parque e vão andar no Basófias. Vejam um filme em casa. Já sei, assim mesmo na loucura: CONVIVAM UNS COM OS OUTROS E SEJAM UMA FAMÍLIA, em vez de se irem enfiar num espaço fechado, barulhento e com luzes artificiais a gastar o dinheiro que não têm para comprar coisas para os vossos filhos não sentirem tanto o vazio emocional que nasce por vocês serem umas bestas consumistas.
Acho que resumi bem o meu estado de espírito. Não há paxorra para a humanidade estes dias.
Um kiss e um cheese.